terça-feira, 25 de julho de 2017

Noite estrelada no laboratório de ciências

Eu sou um conjunto de conceitos que jamais compreenderei. Conceitos em formação, conceitos refutados, conceitos não descobertos. Em mim, a mecânica quântica e a relatividade geral, a limitação cerebral causada pela linguagem, a teoria do caos e toda ordem e determinismo paradoxais nela, o pós-positivismo e cientificismo brincando de ciranda, enquanto minas terrestres passam do prazo de validade e tornam-se inofensivas para crianças que irão brincar de amarelinha naquela terra em alguns anos. Eu sou toda vitalidade dos meus órgãos cobertos pela pele que em contato com outro corpo passou a ter cheiro de melissa e alecrim. Meus olhos, coletando luz, invertendo imagens, transformando-as em impulsos eletroquímicos, em toda sua complexidade, desenvolvem com facilidade o papel de me ver refletida, nua, na tela do computador, enquanto estou em uma varanda tão alta que atrás de mim apenas nuvens. Eu sou um conjunto de tudo. Eu serei tudo, em um universo infinito, com infinitos arranjos.
O universo possui uma fonte inesgotável de absurdos e em mim há uma amostra, dotada de liberdade cedida pelo Leviatã, desse amontoado de contradições que não se distinguem. Radiação cósmica de fundo, supernovas e pulsares, mas também óculos embaçado pelo vapor do chá, molhar as plantas e receber cafuné. O horizonte de eventos do suposto buraco negro ao centro da Via Láctea guardará toda história do que fui e do que serei? Não sei, mas também ninguém sabe. Em mim há uma Noite Estrelada e mesmo sendo, nada sou. No entanto: tudo serei, de forma infinita. O caos não é aleatório ou assustador.

Um comentário: