quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Dezembro.

No olho do furacão, a saída mais fácil é a certa?

Sentir, sentir assim e sentir a todo momento só acontece por estar viva. Me disseram essa semana que eu acho que sou obrigada a sentir tudo o que deve doer, e que eu acho que preciso dessa dor, mas se não fosse pra sentir absolutamente tudo, por que eu estaria viva? E se sinto de tal forma, mudar não seria escapar do que sou? Entendo Darwin, eu juro, mas eu já abro mão de tantas coisas.

Hoje completou 5 anos desde que conheci um bom cara. Três anos depois, eu tive esse cara e ele me teve. Eu pude ter esse cara outras e outras vezes, mas ele se foi pelos espaços entre meus dedos finos e ossudos. Ele ainda é um bom cara. Eu ainda não sei se fui eu quem o colocou porta afora ou se foi ele quem achou as chaves e resolveu sair. Talvez eu tenha balançado as chaves na frente dele, com o desdém que só eu sei mostrar quando não entendo o que sinto, por saber que se eu não aguentaria que isso fosse feito comigo, meus semelhantes também não teriam sangue frio. Todos eles foram um pouco iguais a mim, por isso eu sempre soube como fazê-los ir pensando que ir fosse ideia deles, não minha. Então eu chorava, fazia poesia e nunca aprendia. Deus! Há pais pedindo permissão pra matar as filhas, no leste da Síria, pra que elas não sejam capturadas e estupradas por seres humanos, com armas e dentes, que estão chegando em suas cidades. Algumas delas cometendo suicídio antes. Morrendo porque morrer doerá menos. Há semelhantes morrendo pra não viver sentindo-se mortos. E eu? Patética e egoísta.
- Sabemos que um espinho no dedo da gente é pior que o genocídio de uma tribo na Polinésia. Dói mesmo. Não é egoísmo. - O Luiz entende de solidão, sabe o que me dizer.
Resolvi que dessa vez, dessa única vez em vinte e três anos, seria diferente. Senti sendo diferente, vivi sendo diferente, mas não foi. Talvez seja esse o meu motivo: eu não sei o que é viver de outra forma. Então termino mais um dia olhando a chuva do meio de dezembro molhar o pedaço da cortina que o vento sugou pra fora da janela, talvez aceitando que comigo nunca será diferente, talvez começando uma revolução. Mas estarei viva pra saber.

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