sábado, 15 de outubro de 2016

último

"não segure a vida com os dentes. segure com os lábios."

você não foi o primeiro a querer me dizer isso
a elogiar as minhas inseguranças
ou entender
entender que eu não sei usar pontuação
que falo demais às vezes
e de menos noutras
que postergo alegrias e tristezas e fico agoniada nesse meio termo
que tenho medo de ter medo
que tenho medos demais
por ser indecisa
e ter uma péssima memória da qual você não foi o primeiro a rir
por eu querer T U D O
por eu não ter N A D A
por me apavorar com o fundo do mar
e me dedicar a todos os detalhes que me levam a psicose
por amar e odiar na mesma medida a efemeridade

você não foi o primeiro em coisas que eu lembro quais foram os primeiros e às vezes você se importa com isso às vezes você não se importa com isso
você me procura e grita saudade! você me deixa e eu escrevo sonetos sobre ela
sobre a saudade de me importar que
você me lembrou e lembrou
o que é não ter
o que são tantas coisas que esse corpo já havia desistido ou esquecido por ser mais conveniente

você não foi o primeiro a me lembrar do que faz mal
você não foi o primeiro a despertar em mim a vontade de me livrar do que faz mal
mas se houveram outros
que beijaram as minhas inseguranças
antes de você
que o fez ontem
é porque nunca houve um último
é porque não há outro último
além de você?
que me confunde que me questiona que me dá meias respostas que me faz querer descansar num banco contigo em meu colo fazendo perguntas que me constrangem mas que respondo mesmo assim porque você me explicou você foi o último a me explicar que não não devo hesitar que devo lhe contar sobre tudo sobre tudo o que machuca a mim ou a você

você não foi o primeiro

você não acredita no sempre
e disso eu lembro porque
pensei:
como eu

mas
ah

que
ri
do

eu me livro de qualquer exigência
menos da certeza que preciso
que só palavras lavadas com a água mais limpa
e cantadas
por você
em meu ouvido
pra mim só pra mim
não em meio a multidão
não em meio a respostas a outras perguntas que já nem têm importância
podem me convencer

fico nua
de qualquer pretensão
menos da esperança do eterno

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